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CNI

Juros altos, redução de demanda interna e importações prejudicaram desempenho da indústria, avalia CNI

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 03 de setembro de 2025

Cenário já dá sinais da importância de iniciar ciclo de redução da Selic para desafogar setor produtivo, que só apresentou crescimento entre Serviços e Indústria Extrativa


A redução do ritmo de crescimento da atividade econômica, com um avanço de PIB de 0,4% no segundo trimestre, contra 1,3% no trimestre anterior, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se deve, principalmente, à alta de juros, redução da demanda interna e importações, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na comparação com o 2º trimestre de 2024, o crescimento foi de 2,2%, abaixo da projeção da CNI de 2,5%.

Entre os setores da economia, os resultados positivos vieram do setor de Serviços, que avançou 0,6% no 2º trimestre frente ao 1º trimestre de 2025, e da Indústria, que cresceu 0,5% na mesma comparação. A Agropecuária, por sua vez, recuou 0,1% no 2º trimestre, depois de registrar crescimento de 12,3% no 1º trimestre.

Contudo, a alta da indústria no 2º trimestre é explicada exclusivamente pelo crescimento da indústria extrativa, cujo PIB avançou 5,4%, puxada pela produção de petróleo. Os demais segmentos industriais mostraram queda, a segunda consecutiva nos casos da indústria de transformação e da construção. A Indústria de transformação recuou 0,5%, após queda de 1% no 1º trimestre e a Indústria da Construção recuou 0,2%, após queda de 0,6% no 1º trimestre.

Para a CNI, as quedas do PIB da Indústria de transformação e da construção pelo segundo trimestre consecutivo evidenciam os significativos impactos das taxas de juros nos setores, mais expostos que o restante da economia. No caso da indústria de transformação há também a grande presença de importados, que segue crescendo.


"A economia demonstra, claramente, a necessidade de iniciarmos um ciclo de queda na taxa de juros. Esta é, hoje, a maior trava ao desenvolvimento econômico, à criação e manutenção de emprego e ao aumento da renda da população. O atual patamar da taxa básica de juros, em 15%, é insustentável para quem produz. Se a redução da taxa Selic não ocorrer logo, os efeitos da queda da atividade industrial deverão se alastrar pela economia, na medida em que afetarem emprego e renda do trabalhador industrial, além dos investimentos. Sem a contribuição da Indústria, o crescimento da economia brasileira vigoroso dos últimos três anos, em torno de 3%, fica cada vez mais distante de se repetir ", afirma Ricardo Alban, presidente da CNI, que lidera, em Washington, uma missão empresarial para abrir canais de diálogo com os Estados Unidos para negociar saídas ao tarifaço imposto ao produto brasileiro.


Indústria extrativa puxa crescimento do setor, enquanto transformação e construção recuam

O crescimento da produção extrativa é explicado pelo avanço da produção de petróleo. Segundo a ANP, em abril, maio e junho de 2025 a produção de petróleo cresceu 13,7%, 10,9% e 10,1% em relação a abril, maio e junho de 2024, respectivamente. Esse desempenho também está relacionado ao resultado positivo das exportações no segundo trimestre, que cresceram 0,7% na comparação com o primeiro trimestre.

Depois de recuar 1,0% no primeiro trimestre, a Indústria de transformação registrou uma nova queda de 0,5% no segundo trimestre de 2025. O setor vem sendo penalizado pelas taxas de juros elevadas e pela entrada crescente de produtos importados, em especial de bens de consumo.

A Indústria da construção também acumulou o segundo trimestre no campo negativo, com queda de 0,6% no primeiro quarto de 2025 e de 0,2% no segundo. Além de ser um setor fortemente dependente de crédito, que o caracteriza como sensível à variação dos juros, a Indústria da construção é impactada pela redução generalizada do ritmo de crescimento da atividade econômica e mostrou, no segundo trimestre, queda de 1,9% das vendas de material de construção no varejo em relação ao primeiro trimestre do ano, segundo dados do IBGE.

Demanda doméstica menor contribuiu para desaceleração da indústria, enquanto importações aumentaram

Embora o consumo das famílias ainda tenha mostrado alta de 0,5% no trimestre, as taxas de juros elevadas estão penalizando a demanda por bens industriais. Assim, o consumo de bens industriais, que vinha crescendo, mostrou queda no trimestre encerrado em junho frente ao trimestre ante o trimestre anterior, de 0,4% segundo o Indicador Ipea de consumo aparente de bens industriais.

Ao mesmo tempo, as importações de bens industriais seguem crescendo, capturando parte significativa do mercado consumidor. A importação de bens da indústria de transformação, em volume, cresceu 2,3% na passagem do 1º trimestre para o 2º trimestre de 2025, liderada pelas importações de Veículos Automotores, que registraram crescimento de 17,7%; seguida pela importação de Produtos Farmoquímicos e Farmacêuticos, com crescimento de 8,6%, e por Outros Equipamentos de Transporte, com crescimento de 3,4%.

Considerando as diferentes categorias de bens, enquanto o volume importado de bens de capital recuou 0,5% na passagem do 1º trimestre para o 2º trimestre de 2025 e a importação de bens intermediários caiu 0,6% no mesmo período, o volume importado de bens de consumo cresceu 27,0%. A diferença de comportamento, com queda do volume importado de bens intermediários e de capital, de um lado, e alta das compras de bens de consumo, de outro, expõe a expressiva entrada de produtos finais importados, ao mesmo tempo em que a produção industrial doméstica e o investimento recuam.  

"Ainda no que diz respeito ao setor externo, a segunda principal contribuição positiva para o PIB do lado da demanda, depois do Consumo das famílias, veio das exportações de bens e serviços (+0,7%), o que reflete o bom desempenho das exportações da Agropecuária e da Indústria extrativa", avalia a CNI.

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