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Indústria Explica

Indústria Explica: a economia circular e seus benefícios para o meio ambiente e para a sociedade

Por Coordenação de Comunicação - Publicado 25 de outubro de 2021

Em entrevista, o Gerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, explica o que é esse conceito e como podemos associá-lo a sustentabilidade e a bioeconomia. 


Não é de hoje que o tema sustentabilidade vem ganhando destaque no mundo. Por conta dos constantes problemas ambientais e previsões de grandes consequências do uso de recursos não renováveis e do aquecimento global, causado pela emissão de gases poluentes gerada por atividades humanas e industriais insustentáveis, nos últimos anos alguns conceitos e métodos vêm surgindo para garantir uma produção industrial mais limpa e uma economia baseada em recursos sustentáveis a fim de garantir a preservação do planeta e mais cuidados com o meio ambiente. 

Com isso, tem crescido cada vez mais a discussão sobre a economia circular, baseada na utilização consciente dos recursos naturais a partir da otimização dos processos de produção. No atual modelo econômico linear, esses processos são baseados na extração dos recursos, na produção dos bens e no descarte dos rejeitos, aumentando as chances de poluição do meio ambiente por conta do grande volume de resíduos e até o esgotamento de recursos finitos. Por isso, esse modelo é insustentável e tem perdido cada vez mais espaço para a economia circular, que, de acordo com a Organização Internacional de Normalização (ISO), “é um sistema econômico que utiliza a abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”. 

Mesmo que em constante discussão nos últimos anos, o tema ainda é desconhecido pelas empresas. Um estudo realizado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) constatou que 70% das empresas industriais participantes desconhecem o tema, mas que cerca de 76,5% delas já desenvolve práticas sustentáveis relacionadas à economia circular. Sendo assim, mesmo já realizando atividades nesse sentido, as empresas ainda desconhecem e não conseguem associar essas práticas ao conceito.

Por isso, é importante destacar como funciona, quais os objetivos e benefícios da economia circular, não só para as empresas como também para o meio ambiente e para a sociedade. Nesta entrevista, o Gerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, contribui para esclarecer esse conceito.


Qual é o conceito de economia circular, como ele se aplica na prática e como se aproxima do conceito de Bioeconomia?

Davi Bomtempo - A economia circular, assim como bieconomia, são dois conceitos que têm sido bastante discutidos, tanto no ambiente doméstico, quanto no ambiente internacional. São dois temas que possuem várias escolas, vários pensamentos e por isso vêm sendo discutido dessa forma tão intensa. Aqui dentro da CNI nós sempre preferimos tratar num contexto muito mais amplo quando a gente fala de economia circular, que é manter todo o produto ou serviço o máximo de tempo possível dentro do seu ciclo de vida, investindo tanto nos ciclos chamados curtos como reuso, a remanufatura e a própria reciclagem, como também em investimento em inovação na parte eco design, ou seja, a gente investir naquela modelagem do produto para que ele tenha uma durabilidade muito maior durante o seu ciclo produtivo, como também a possibilidade de você fazer qualquer tipo de alteração ou reposição de módulos de forma a você também deixar esse produto cada vez mais tempo dentro da sua cadeia. No caso da bioeconomia a mesma coisa, é você gerar renda e receita a partir dos recursos biológicos, fazendo uso também do desenvolvimento sustentável. Hoje, aqui na CNI, nós temos trabalhado muito  na construção da norma ISO e um primeiro passo é a definição de conceitos e de princípios. Então a CNI tem se debruçado nessa jornada junto com outros países, junto com a nossa base para que a gente possa oferecer um entendimento que seja consenso entre todos esses países, entre todos os setores. Então de certa forma o conceito de economia circular ele vai na guia de ser um sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos por meio da adição, retenção e, uma palavra muito importante que vem sendo sempre utilizado quando se fala de economia circular, a regeneração dos seus valores enquanto contribui para o desenvolvimento sustentável. Então note que tanto na agenda de bieconomia quanto na agenda de economia circular, e muitos já se falam em bioeconomia circular, a parte do desenvolvimento sustentável é significante quando a gente atua na definição desses dois conceitos.


Esses debates surgem sempre alinhados às discussões sobre sustentabilidade. É correto associar uma coisa a outra? Por quê?

Davi Bomtempo - Com certeza, quando a gente considera os pilares da sustentabilidade, o contexto econômico, social e também o ambiental, a economia circular vai trabalhar nessas três frentes, principalmente quando você gera novas cadeias e você tem aí toda essa questão de contemplar o social e também fazer um melhor uso dos recursos naturais. Então dessa forma a economia circular vai trabalhar essas questões. É claro que temos aí questões estruturantes para o Brasil resolver, como por exemplo a questão saneamento básico, onde temos aqueles indicadores que todos conhecem e é uma oportunidade de lançar mão da economia circular pra gente melhorar esses indicadores e outro aspecto também estruturante é a questão dos lixões que é a economia circular pode entrar com seus princípios e de certa forma endereçar todos os encaminhamentos para que a gente possa solucionar esse problema que é de bastante tempo e que o Brasil precisa urgentemente já tratá-los.


Como a economia circular se aplica no contexto industrial e como a região Nordeste está posicionada nessa conjuntura da economia circular?

Davi Bomtempo - Essa pergunta é muito importante porque, segundo dados de algumas pesquisas internacionais, o mundo é pouco circular e isso não é diferente também quando olhamos para contexto industrial-doméstico. Recentemente a CNI fez uma pesquisa onde identificou que mais de 70% das empresas entrevistadas não sabem o que é a economia circular. No entanto, 76% já desenvolve alguma prática, algum princípio de economia circular, tais como a otimização de processos, insumos circulares, recuperação de recurso, extensão de vida do produto, produto como serviço, virtualização e também compartilhamento que já vem sendo utilizado de forma mais intensa. No caso do Nordeste sempre olhamos para algumas oportunidades que alguma crise pode gerar, a exemplo da nossa crise de recursos hídricos que também vai ter desdobramento em crise energética e a economia circular entra como parte da solução desses problemas que não vão ser só de agora, vão ser também identificados aí mais a frente de forma cíclica. Então queria deixar aqui como exemplo a própria questão energética, de utilizar o serviço como produto, a gente tem muito exemplo dessa parte de você trabalhar a questão do serviço de iluminação em prol da questão aí de produtos das lâmpadas, mas também trazer algumas oportunidades com agenda bastante importante de segurança hídrica que é a questão do reuso, que o Nordeste se coloca como um dos grandes beneficiários desta ferramenta, sempre em busca da nossa segurança hídrica, principalmente em grandes regiões metropolitanas, onde a água de reuso pode também trazer aí um alívio para captação de corpos hídricos. Então gostaria aqui de deixar esses dois exemplos.


Quais são os principais benefícios da economia circular para as indústrias e para a sociedade e de que maneira ela pode potencializar os ganhos, sobretudo para o setor industrial? 

Davi Bomtempo - Bom, precisamos sempre pensar de uma forma a fazer uma transição para uma economia mais circular, dado que já existem vários processos e produtos estabelecidos aqui no contexto doméstico, no contexto industrial e dessa forma a gente precisa sempre pensar numa forma de transição mais equilibrada para esse novo sistema econômico. Claro que uma economia circular tem impacto em termos de custo, a partir do momento que você passa a utilizar os recursos naturais de forma mais eficiente, mas também traz ganhos a nível de meio ambiente, principalmente olhando pra questão relacionada à redução das emissões e redução da perda da biodiversidade. Então todos esses pontos são bastante contemplados quando você leva esse entendimento de negociações e também no contexto internacional. A gente sabe que hoje a recuperação pós-covid está sendo direcionada para essas duas linhas, questões climáticas e redução da perda de biodiversidade, e a economia circular entra de uma forma horizontal para contemplar esses dois eixos. A gente não pode deixar de falar também de planos que vários países têm endereçado principalmente sobre eficiência energética e também de energias renováveis. Então abre um conjunto de oportunidades para que o empresário brasileiro enxergue essas novas tendências, além do perfil do consumidor que vem mudando de forma paulatina no sentido de entender como cada produto é produzido? O que se utiliza na produção deste produto? que impacto social teria? Então é uma forma de posicionar a indústria brasileira nesse novo contexto, sem esquecer-se também das questões regulatórias que estão cada vez mais presentes. Assim, a questão da economia circular é uma forma de se pensar e de tornar os produtos brasileiros cada vez mais competitivos num contexto internacional.


O que a CNI tem defendido em relação à agenda da economia circular para a transição para esse novo modelo?

Davi Bomtempo - A CNI já trabalha nessa agenda há bastante tempo. A gente tem se debruçado junto com a academia, junto com setores econômicos e com empresas para que possamos entender e  construir uma agenda de defesa e de interesse que possa promover a economia circular na indústria brasileira. Então a gente fez essa interação, a gente elaborou alguns estudos, onde a gente pode entender quais seriam aquelas barreiras, aqueles entraves e de certa forma desenvolvemos aí uma agenda de trabalho. Então no contexto dessas barreiras a gente sempre destaca a questão das necessidades de se aprimorar políticas públicas para tratar a questão de financiamento, que é um tema bastante estruturante que também envolve outras agendas quando a gente fala de sustentabilidade, como por exemplo a bieconomia. Hoje o Brasil e as políticas públicas ambientais brasileiras são muito direcionadas para a questão de comando e controle, e a parte dos incentivos econômicos muitas das vezes é deixada de lado. A própria educação também é uma questão bastante importante de forma a valorizar esse entendimento desde os primeiros anos, desde a base da população e a questão também de ciência e tecnologia, ou seja, deixar cada vez mais a indústria próxima do setor acadêmico para que a gente possa potencializar questões relacionadas à própria inovação. Claro que a ideia da economia circular é para a economia como um todo, mas a gente já vem interagindo e percebendo que alguns setores já tratam essa agenda com mais prioridade, posso citar aqui como exemplo o setor do aço, da mineração, da energia, o eletroeletrônico que tratam toda a essência da economia circular e também setores, como o têxtil, que vem valorizando essa agenda de uma forma bastante intensa e como uma oportunidade de negócio também pros próximos anos.


Texto/Colaboração: Igor Batista 

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